A Justiça, com auxílio da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, fechou uma falsa clínica de reabilitação terapêutica para dependentes químicos e transtornos psiquiátricos após diversas denúncias de familiares de pacientes internados no local. O dono do estabelecimento, que alugava o espaço para a clinica, nega os fatos.
Segundo a defensora pública Eni Maria Cezerino Diniz, os familiares que contratavam o trabalho acreditavam estar investindo em um tratamento médico que nunca aconteceu.
“Os internos da unidade que estavam a mais tempo iam em uma ambulância até a residência e faziam o que eles chamavam de ‘remoção’. Pegavam a força os pacientes que não queriam se deslocar até essa unidade e, se eles fugissem, passavam por um processo de resgate ou recaptura. Uma equipe ia atrás e trazia novamente a força, sem qualquer cuidado, sem qualquer manejo, sem habilitação técnica de que esse serviço pudesse ser feito”, contou a defensora.
Após a denúncia, a defensoria fez uma vistoria no local, onde foram encontrados comidas sendo manuseadas sem higiene, concertinas para impedir a fuga de abrigados, medicamentos sem origem, idosos com problemas de alcoolismo sem tratamento adequado e situações consideradas desumanas.
“O ambiente era extremamente opressivo, não havia um plano terapêutico, não havia cuidado dos pacientes. O que havia era uma imposição de cumprimento de regras, eles eram obrigados a cumprir essas regras se não tinham penalizações. Além do uso de medicações excessivas, sem a presença de um médico no local que pudesse prescrever e acompanhar essa situação”, afirmou Eni Maria.
Uma das denúncias feita pela mãe de um antigo interno, que preferiu não se identificar, conta que encontrou o filho completamente dopado e sem a alimentação adequada.
“Meu filho contou que tinham idosos amarrados, abandonados e que os próprios internos cuidavam deles. Ele disse ainda que ficou dois meses usando fralda e que não tinham direito a comer carne. As pessoas que cuidavam dos pacientes se masturbavam em cima dos doentes que viviam dopados”, disse a mãe.
Ainda conforme a defensoria, as famílias dos pacientes também foram vítimas por comprar uma ideia falsa sobre as abordagens da clinica. Uma liminar proíbe o local de funcionar e exige que toda a publicidade feita pelo local seja removida.
O caso segue em investigação e, conforme João Paulo, que se identificou como dono do estabelecimento, o espaço era alugado e os pacientes não viviam em situações desumanas. Ainda conforme o homem, o espaço tinha documentos necessários para funcionar, não era uma falsa clinica e sobre os idosos hipermedicados seria um “exagero”.
“Eu tinha enfermeiro, técnico em enfermagem, médico que atendia uma vez por semana… Não condiz isso aí não”, afirmou.