O Hospital de Câncer Alfredo Abrão (HCAA) passa por uma crise financeira que põe em risco os atendimentos da instituição.
No entanto, a falta de transparência pode ter agravado a situação, tendo em vista que conselheiros já haviam entrado com pedido de informações a respeito da situação financeira do hospital desde dezembro de 2020.
Em documentos apresentados, conselheiros do HCAA solicitaram ao presidente do hospital, em 16 de dezembro de 2020, a apresentação de documentos, balancetes, balanços, contratos, dados e demais informações a respeito da situação financeira do hospital, dos contratos de gestão, das obras do HCAA e da gestão de pessoas.
Em março de 2021, por intermédio do Ofício FCPMS/GAB n° 070/2021, a presidência da Fundação Carmem Prudente de Mato Grosso do Sul (FCPMS), mantenedora do HCAA, não atendeu à solicitação dos conselheiros signatários, entendendo que as atividades da diretoria deveriam ser reportadas apenas ao conselho curador, o que, de acordo com os conselheiros signatários, vai contra alguns artigos do estatuto da fundação.
Em razão disso, em maio de 2021, os conselheiros seguiram com o requerimento das informações e o enviaram para a 49ª Promotoria de Justiça de Campo Grande, o Ministério Público Federal, o Tribunal de Contas do Estado e o Tribunal de Contas da União, porém, sem respostas.
No site da instituição, há alguns contratos na seção Portal da Transparência, mas o balanço da gestão de 2022 não está disponível.
CONSELHEIROS
O ex-conselheiro Carlos Coimbra conversou com o Correio do Estado a respeito da atual situação do HCAA. Coimbra foi diretor administrativo e financeiro do hospital e, até o ano passado, participava do conselho da instituição.
O advogado renunciou, em razão das diversas tentativas fracassadas de saber como estava a situação financeira da entidade.
Na administração de Coimbra, ele informou que, em função de crise financeira e administrativa que a instituição havia passado, foram realizadas ações para recuperar as finanças e a credibilidade do hospital, como controle rígido dos gastos, contratação de um sistema de compras de medicamentos – que economizou em seis meses R$ 1 bilhão no preço dos remédios –, revisão de contratos, entre outros.
No entanto, para Coimbra, é necessário que a atual gestão do HCAA mostre quais são as despesas e as receitas do hospital, até mesmo para justificar ao poder público a necessidade de aumento de repasse, caso haja.
Outro ex-conselheiro, o também advogado Danny Fabrício Cabral Gomes participou do conselho por cerca de oito anos e renunciou ao cargo no mesmo período que Carlos Coimbra, também em função da suposta falta de transparência.
O advogado esteve presente durante as iniciativas para recuperar as arrecadações e a credibilidade do hospital, por causa da crise que ocorreu cerca de 10 anos atrás.
“Eram feitos, inclusive com artistas de renome nacional, como Michel Teló, promoções, leilões, shows, em que nós vinculávamos a imagem do hospital a empreendedores e doadores que realmente se importavam com a sobrevivência do HCAA, porque é um hospital que atende pessoas das nossas sete fronteiras”, comentou Gomes.
O ex-conselheiro acredita que deve ser verificado qual a efetiva arrecadação de doações do hospital e se esses valores recebidos foram bem aplicados, já que a atual gestão não informava adequadamente ao conselho sobre as decisões da presidência.
“Eu recordo de um caso de uma doação de, se não me engano, mais de R$ 2 milhões prometida pelo Instituto Ronald Mcdonald, vinculado à AACC, que foi votada pelo conselho a aprovação do projeto. Até hoje não tenho informação de que esse departamento do hospital saiu do papel, em virtude de a atual gestão simplesmente ter modificado os planos e desrespeitado decisões anteriormente dadas pelo conselho”, disse Gomes.
CRISE FINANCEIRA
No dia 22 de fevereiro, os médicos do HCAA entraram em greve, reivindicando o cumprimento integral de regularização dos pagamentos e dos vínculos e dos contratos dos integrantes do corpo clínico, além da regularização dos serviços de patologia e exames de imagens (ressonância magnética e cintilografia óssea), essenciais aos diagnósticos e seguimento de tratamentos dos pacientes.
Em nota, o hospital informou que “há um enorme deficit financeiro, com necessidade de incremento de custeio de R$ 770 mil mensais, cujo estudo de revisão foi apresentado para as autoridades públicas da saúde, tanto da prefeitura como do governo do Estado, em janeiro e, até o momento, não foi atualizado”.
No momento, apenas atendimentos de urgência e emergência no pronto atendimento do HCAA, cirurgias de urgência e emergência, atendimentos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e tratamentos nos setores de quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia já em andamento continuam sendo realizados.
A Prefeitura de Campo Grande afirmou que todos os repasses municipais à entidade estão em dia. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.
Saiba: Por conta da greve dos médicos, serão realizados apenas atendimentos de urgência e emergência no pronto atendimento do HCAA, cirurgias de urgência e emergência, atendimentos em UTI e tratamentos que já estavam em andamento.
Fonte: Correio do Estado