Sem receber pagamentos, algumas funerárias de Mato Grosso do Sul estão abandonando o serviço de remoção de corpos dos locais de crime para transportá-los até os IMLs (Institutos Médico Legais). Segundo denúncia feita por empresários ao Campo Grande News, há casos de prestadores deste serviço que não receberam nenhum pagamento em 2022.
No Estado, há 136 funerárias credenciadas para fazer as remoções, 130 delas trabalham no interior e seis dão plantões na Capital. Conforme os denunciantes, que procuraram a reportagem na condição de anonimato por temerem que a situação se agrave, há empresas com créditos entre R$ 9 mil e R$ 16 mil acumulados para receber. Algumas desistiram de prestar o atendimento e o risco é de sobrecarregar outras.
Corpos de pessoas assassinadas ou que morreram em acidentes em Ribas do Rio Pardo, por exemplo, só são retirados da cena do crime e levados para a necropsia quando a funerária plantonista de Campo Grande consegue percorrer os 97 km de distância até o município.
A Pax Vida, credenciada para o serviço na cidade, desistiu do contrato com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). “Fiz remoções até abril e aí decidi sair porque estava sem receber desde setembro do ano passado”, conta Eliana da Cruz, proprietária da funerária, que ainda tem R$ 14,8 mil em crédito com o Estado, sem previsão de pagamento.
A empresária explica que prestar o serviço se tornou inviável, porque o município tem vasta extensão territorial e a estrutura empenhada para cumprir as exigências contratuais – carro adaptado e funcionários em dupla, por exemplo – é cara. “A gente não tem hora, não tem dia, fica à disposição da perícia, paga tudo à vista. As notas de setembro, outubro e novembro do ano passado, vim receber em maio. Empenhei, paguei os impostos. Trabalho aqui há 27 anos, somos pequenos, mas não tenho mais interesse por causa disso. Se ainda tivesse um compromisso de me pagarem em pelo menos 30 dias”, pondera.
A presidente da AFIMS (Associação das Funerárias do Interior de Mato Grosso do Sul), Elaine Cristina Zangerolami, confirma que tem recebido reclamações de vários cantos do Estado e diz que está sendo pressionada pelos associados a buscar uma solução. “A gente liga, corre atrás, pergunta. Só dizem que está na fila de pagamento, mas esse pagamento não ocorre. Tenho um caso de empresário que está na fila desde o dia 5 de julho e já estamos no dia 3 de agosto, mas ele não recebeu nada”.
Dona da Pax Brasil, de Chapadão do Sul, Elaine também está no prejuízo. Tem cerca de R$ 11 mil para receber por serviços prestados desde dezembro de 2021. “A gente tira do bolso o combustível, hora extra e alimentação de funcionário. Tem de ter carro exclusivo, uniforme, saco de remoção”, comenta sobre as despesas.
Por meio da assessoria de imprensa, a administração estadual informou que algumas funerárias tiveram problemas para receber devido a emissão de notas fiscais com erro e que as empresas estão sendo convocadas a fazer a correção para que os pagamentos sejam liberados.
A representante da categoria nega. “Toda a documentação exigida dos nossos associados está correta. Eu mesma fui verificar”, diz Elaine, completando que está tentando uma reunião com o setor responsável na Sejusp para que o problema seja resolvido definitivamente.
CAMPO GRANDE NEWS