O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) denunciou 19 pessoas por envolvimento em uma quadrilha que usava viaturas policiais para transportar cocaína em todo o Brasil. A denúncia foi oferecida uma semana depois da segunda fase da Operação Snow, que cumpriu diversos mandados em Campo Grande, na última quarta-feira (15).
Entre os denunciados estão o empresário Emerson Correa Monteiro – preso em um condomínio de luxo na Capital – Rodney Gonçalves Medina e a esposa, o comerciante preso no Portal Caiobá, policiais civis, dois advogados e Joesley da Rosa – líder da organização criminosa que foi preso na primeira fase da operação no ano passado.
Segundo a denúncia, a organização contava com uma extensa rede logística de transporte com base na Capital sul-mato-grossense. O intuito era escoar a droga de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, para outros estados do Brasil, especialmente São Paulo.
“O transporte era, em regra, feito em compartimentos ocultos de caminhões frigoríficos (“mocós”), dada a maior dificuldade de fiscalização policial, já que junto à carga ilícita vinham cargas perecíveis. A organização criminosa providenciava a inserção da droga em um compartimento previamente preparado e, então, carregava o caminhão com o material perecível que seria licitamente transportado, após o que o baú refrigerado era lacrado”, diz trecho da denúncia.
Já para mascarar os verdadeiros donos dos veículos e serem discretos em eventual fiscalização da polícia, o grupo promovia a transferência de propriedade dos veículos para os motoristas e empresas que eram usadas no esquema.
Após as investigações, foram expedidos 21 mandados de prisões preventivas e 32 de busca e apreensão pela 5ª Vara Criminal de Campo Grande.
E em março do ano passado, foi deflagrada a primeira fase da Operação Snow para que os mandados fossem cumpridos. Na ocasião, Rodney Gonçalves Medina, Ademar Almeida Ribas e Joesley da Rosa foram presos.
Após a prisão de 21 investigados na primeira fase da Operação Snow, foi feita uma análise dos dados extraídos dos aparelhos celulares de Joesley e Rodney.
Com a análise, ficou demonstrado que o grupo é especializado no tráfico de drogas e integrado por 19 pessoas, as quais foram denunciadas após a segunda fase da operação.
Defesa insiste, mas MPMS nega liberdade de ‘financiador’ do tráfico preso
A defesa de Emerson Correa, apontado como financiador da organização criminosa, insistiu, mas o MPMS negou a liberdade provisória dele na última sexta-feira (17). O pedido de revogação da prisão preventiva do investigado foi feito pelo time de advogados Márcio de Campos Widal, Nayara Andrade Neves, Vinicius Chita de Assis, Karoline Vieira de Macedo e Alexandre Franzoloso.
No pedido consta que Emerson é investigado por suposto financiamento do tráfico de drogas da organização criminosa. Porém, a defesa alega que o envolvimento com o tráfico seria pelo fato do cliente ser réu em um homicídio qualificado, visto que a motivação para o assassinato teria ocorrido por conta de um desacerto na venda de drogas.
Operação Snow
A Operação ‘Snow’, que está na segunda fase, deflagrada no dia 15 de janeiro cumpre, além dos 9 mandados de prisão temporária, outros 19 de busca e apreensão. As ações ocorrem em Campo Grande, Dourados, Ponta Porã e Piratininga, em São Paulo. Entre os alvos estão advogados e policial civil
Equipes do Batalhão de Choque e o Batalhão de Operações Policiais Especiais, prestaram apoio operacional ao Gaeco. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Corregedoria da Polícia Civil também acompanharam as diligências.
A primeira fase da operação aconteceu em março de 2024 a partir da análise do material apreendido, especialmente telefones celulares, revelou que ao menos outras 17 pessoas integram a organização criminosa, alvo dos trabalhos, entre os quais advogados e policial civil.
O líder da organização criminosa monitorava investidas da polícia e cooptava servidores públicos corruptos, o que era feito por meio de advogados.
Os advogados, além da prestação de serviços jurídicos, cooptava agentes públicos para conseguir informações privilegiadas e monitoramento das cargas de drogas, além de serem conselheiros de outros assuntos sensíveis da organização.
Organização criminosa
Segundo o Gaeco, a organização criminosa é extremamente violenta, resolvendo muitas de suas pendências – especialmente as questões relacionadas à perda de cargas de drogas e outros desacertos do tráfico – com sequestros e execuções, muitas vezes de seus próprios integrantes.
O escoamento da droga, como regra da cocaína, era realizado por meio de empresas de transporte, inclusive, descobriu-se, agora, sobre empresas terceirizadas dos Correios.
Durante o transcorrer dos trabalhos foi possível identificar mais 2 toneladas de cocaína da organização criminosa apreendidas em ações policiais.
Trio de quadrilha que transportava cocaína em viaturas da polícia teve liberdade negada
O trio Rodney Gonçalves Medina, Ademar Almeida Ribas e Adriano Diogo Veríssimo teve a liberdade negada pela Justiça, em outubro do ano passado. O pedido foi negado pelo desembargador Luiz Cláudio Bonassini da Silva, tendo sua publicação no Diário da Justiça do dia 14 de outubro.
“Embora a defesa tenha argumentado sobre o tempo excessivo, a complexidade do caso, que envolve múltiplos réus e diversas investigações, justifica a continuidade da prisão preventiva”, diz parte da decisão.
Os advogados de defesa do trio alegaram constrangimento ilegal devido ao excesso de prazo na instrução criminal.
Viaturas eram alugadas por R$ 80 mil para o transporte da cocaína
As cargas de cocaína que eram transportadas pelos policiais civis Hugo César Benites e Anderson César dos Santos Gomes, de Ponta Porã para Campo Grande, eram desviadas de apreensões feitas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Polícia Civil. Cada investigador chegava a receber cerca de R$ 80 mil por transporte do entorpecente.
Hugo César Benites estava no Paraguai quando foi deflagrada a Operação Snow, no dia 26 de março de 2024. O investigador se entregou para não ser expulso do país vizinho. Anderson César já estava preso depois de ser flagrado transportando cocaína para o grupo, que, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), é altamente articulado e estruturado com logística sofisticada e divisão de tarefas delineadas.
Os policiais cooptados pela organização criminosa chegaram a receber, em 21 meses de ‘trabalhos’ para o grupo, o valor de R$ 960 mil, sendo R$ 480 mil para cada um. Ou seja, por transporte, eles chegavam a receber R$ 80 mil.
Fonte: Jornal Midiamax